Pesquisa realizada em ônibus espaciais trouxe novas tecnologias
Com o auxílio de astronautas, experimentos enviados ao espaço resultaram em produtos usados diariamente na Terra
O programa de ônibus espaciais trouxe muitos benefícios científicos ao planeta. Ele ajudou a melhorar o conhecimento sobre o universo e nossos planetas vizinhos, criou um dos mapas topográficos mais detalhados da Terra, está ajudando médicos a entender o processo de envelhecimento humano e até mesmo melhorou a qualidade do leite em pó.
Um soldado que precisou passar por um campo minado ou um civil que necessitou sair de um carro acidentado podem ter tido suas vidas salvas por tecnologias derivadas de um ônibus espacial.
Muitos creditam ao programa Apollo a criação de novas tecnologias, como o velcro, revestimentos de Teflon e o suco em pó tipo Tang, mas essas foram coisas usadas pela Nasa, não inventadas pela agência espacial americana.
Ainda assim, o programa de ônibus espaciais não recebe o reconhecimento devido por sua ciência e tecnologia, afirma a Nasa. E os experimentos feitos nos ônibus espaciais vão ter seu fim no pouso do Atlantis.
Claro que gastar quase 200 bilhões de dólares em qualquer tecnologia avançada vai compensar em maneiras inesperadas. Mas segundo um pesquisador crítico do programa americano de voos espaciais tripulados, as alegações da Nasa são mais autopromoção que qualquer outra coisa. “Tudo foi inventado em Terra e usado no espaço,” afirma Bob Park, professor de física da Universidade de Maryland e autor de livros que desvendam mitos científicos. Para ele, isso acaba servindo mais como ferramenta para alavancar vendas que qualquer outra coisa, citando um relatório antigo da Nasa.
Mas cientistas que trabalham com a agência espacial afirmam que a pesquisa dos ônibus espaciais compensou e muito. “Aprendemos bastante com eles, sim,” diz o professor de astronáutica e tecnologia de saúde Laurence Yong, do Instituto de tecnologia de Massachussetts (MIT), que enviou experimentos em sete voos espaciais, para estudar como a falta de gravidade afeta o corpo.
O ônibus espacial não foi construído para a pesquisa científica, afirmou Neal Lane, físico da Rice University, que chefiou a Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos e foi conselheiro científico do presidente Bill Clinton. No entanto, tanto o ônibus quanto a Estação Espacial Internacional (ISS) -que não teria sido construída sem a frota -, são lugares sem precedentes para questões importantes da ciência. O pesquisador diz estar bastante animado com o acelerador de partículas instalado durante a última missão do Endeavour, em maio.
No espaço
As pessoas tendem a subestimar a crescente compreensão sobre biologia humana provida pela ISS e pelos ônibus espaciais, explica Lane. “Aprendemos coisas sobre o corpo humano que não teríamos como descobrir a não ser operando no espaço e por longos períodos”.
Astronautas perdem força óssea, têm problemas de equilíbio e deficiências no sistema imunológico que são semelhantes ao envelhecimento. Estudar como combater a perda óssea em astronautas com exercícios e outras atividades pode ajudar quem está na Terra.
Ainda assim, o campo mais beneficiado foi a astronomia. O maior exemplo é o Telescópio Hubble, que mudou a nossa visão do espaço e nossa compreensão da idade do universo. Ele foi lançado por um ônibus espacial, consertado por um ônibus espacial e atualizado quatro vezes por seus tripulantes em caminhadas espaciais. Sem isso, a visão que temos hoje do resto do universo é que estaria um tanto desfocada.
O ex-chefe da Nasa Alan Stern também lembrou que os ônibus espacias lançaram três outras sondas importantes: Galileo, que permitiu observar Júpiter e suas luas de perto, Magellan, que mapeou o quente e caótico Vênus e Ulysses, que examinou a influência do Sol nas fronteiras do sistema solar.
Outro feito subestimado é o de um voo de 2000, que levou à órbita um conjunto de radares especiais que mapeou a maior parte do planeta, incluindo locais inacessíveis anteriormente, como selvas e picos de montanhas, com as medições topográficas mais precisas até aquele momento. Isso foi muito importante para a aviação e planejamento militar.
“É algo que continuará a render frutos durante muito tempo, afetando ciência, meio ambiente e segurança nacional, mesmo sendo uma missão pouco valorizada,” afirmou o professor de aviação e pesquisa de voo da Universidade do Tennessee John Muratore, que já foi diretor de voos da Nasa.
Outro item pouco conhecido do ônibus espacial é o biorreator, diz Muratore. Projetado inicialmente para a cultura de células e tecidos em experiências com gravidade zero, é usado na Terra para vários tipos de pesquisas biomédicas. Biorreatores podem fazer com que culturas biológicas cresçam simulando a gravidade zero por rotação, e com isso, cientistas conseguem direcionar o crescimento de tecidos em formatos pré-estabelecidos usando moldes de plástico. “É uma tecnologia ainda em desenvolvimento, e ninguém sabe para onde ela pode ir,” diz Dan Lockney, gerente de tecnologias derivadas da Nasa.
Leite, roupa e operação cardíaca
Todos os anos, a agência divulga uma lista de descobertas científicas derivadas do ônibus espacial, sejam de propósito ou por acidente. Uma vez, os pesquisadores da Nasa estavam procurando jeitos de melhorar a comida dos astronautas e estavam analisando algas. Em uma espécie, encontraram um nutriente visto apenas em leite humano e o desenvolveram. De acordo com Lockney, a substância está presente atualmente em 95% das fórmulas de leite em pó infantil.
“Milhões de bebês foram alimentados pela Nasa, esqueçam o Tang,” brincou Lockney. Outro item é um material criado para trajes espaciais que controla a temperatura. Esse material que esfria o corpo está agora em meias, roupas para esportes de aventura e até mesmo em alguns ternos.
O cirurgião Michael DeBakey ajudou a desenvolver uma pequena bomba cardíaca, feita para pacientes que precisam de transplantes. A engenhoca é baseada nos fluidos que se movem pelos motores principais do ônibus espacial. O dispositivo já foi implantado em algumas centenas de pacientes.
A agência também desenvolveu uma ferramenta para bombeiros. Ela resgata vítimas de acidentes sem precisar de energia elétrica. O combustível dos foguetes do ônibus espacial foi usado na criação de uma dispositivo que desativa minas terrestres com segurança.
Para Yong, a ciência do ônibus espacial é ideal. Os astronautas se familiarizavam tanto com os experimentos que precisavam conduzir que se tornaram pesquisadores de verdade, algumas vezes até adaptando a pesquisa e melhorando seus resultados. Muitas vezes, eles eram coautores dos estudos publicados pelos professor do MIT. “É assim que ciência deve ser feita”.
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Um soldado que precisou passar por um campo minado ou um civil que necessitou sair de um carro acidentado podem ter tido suas vidas salvas por tecnologias derivadas de um ônibus espacial.
Muitos creditam ao programa Apollo a criação de novas tecnologias, como o velcro, revestimentos de Teflon e o suco em pó tipo Tang, mas essas foram coisas usadas pela Nasa, não inventadas pela agência espacial americana.
Ainda assim, o programa de ônibus espaciais não recebe o reconhecimento devido por sua ciência e tecnologia, afirma a Nasa. E os experimentos feitos nos ônibus espaciais vão ter seu fim no pouso do Atlantis.
Foto: AP
Pesquisa científica: experimentos realizados no espaço auxiliam vida na Terra
Mas cientistas que trabalham com a agência espacial afirmam que a pesquisa dos ônibus espaciais compensou e muito. “Aprendemos bastante com eles, sim,” diz o professor de astronáutica e tecnologia de saúde Laurence Yong, do Instituto de tecnologia de Massachussetts (MIT), que enviou experimentos em sete voos espaciais, para estudar como a falta de gravidade afeta o corpo.
Veja a cobertura do voo final do Atlantis:
- Galeria: cronologia do programa de ônibus espaciais
- Infográfico: como voa um ônibus espacial
- Costa da Flórida sente o fim dos ônibus espaciais
- Análise: o legado dos ônibus espaciais
- Perguntas e respostas sobre o fim dos ônibus espaciais
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- Veja como foi o lançamento do Atlantis
- Astronautas completam última caminhada espacial do Atlantis
- Tripulação do Atlantis desfruta de dia de folga
No espaço
As pessoas tendem a subestimar a crescente compreensão sobre biologia humana provida pela ISS e pelos ônibus espaciais, explica Lane. “Aprendemos coisas sobre o corpo humano que não teríamos como descobrir a não ser operando no espaço e por longos períodos”.
Astronautas perdem força óssea, têm problemas de equilíbio e deficiências no sistema imunológico que são semelhantes ao envelhecimento. Estudar como combater a perda óssea em astronautas com exercícios e outras atividades pode ajudar quem está na Terra.
Ainda assim, o campo mais beneficiado foi a astronomia. O maior exemplo é o Telescópio Hubble, que mudou a nossa visão do espaço e nossa compreensão da idade do universo. Ele foi lançado por um ônibus espacial, consertado por um ônibus espacial e atualizado quatro vezes por seus tripulantes em caminhadas espaciais. Sem isso, a visão que temos hoje do resto do universo é que estaria um tanto desfocada.
O ex-chefe da Nasa Alan Stern também lembrou que os ônibus espacias lançaram três outras sondas importantes: Galileo, que permitiu observar Júpiter e suas luas de perto, Magellan, que mapeou o quente e caótico Vênus e Ulysses, que examinou a influência do Sol nas fronteiras do sistema solar.
Outro feito subestimado é o de um voo de 2000, que levou à órbita um conjunto de radares especiais que mapeou a maior parte do planeta, incluindo locais inacessíveis anteriormente, como selvas e picos de montanhas, com as medições topográficas mais precisas até aquele momento. Isso foi muito importante para a aviação e planejamento militar.
“É algo que continuará a render frutos durante muito tempo, afetando ciência, meio ambiente e segurança nacional, mesmo sendo uma missão pouco valorizada,” afirmou o professor de aviação e pesquisa de voo da Universidade do Tennessee John Muratore, que já foi diretor de voos da Nasa.
Outro item pouco conhecido do ônibus espacial é o biorreator, diz Muratore. Projetado inicialmente para a cultura de células e tecidos em experiências com gravidade zero, é usado na Terra para vários tipos de pesquisas biomédicas. Biorreatores podem fazer com que culturas biológicas cresçam simulando a gravidade zero por rotação, e com isso, cientistas conseguem direcionar o crescimento de tecidos em formatos pré-estabelecidos usando moldes de plástico. “É uma tecnologia ainda em desenvolvimento, e ninguém sabe para onde ela pode ir,” diz Dan Lockney, gerente de tecnologias derivadas da Nasa.
Leite, roupa e operação cardíaca
Todos os anos, a agência divulga uma lista de descobertas científicas derivadas do ônibus espacial, sejam de propósito ou por acidente. Uma vez, os pesquisadores da Nasa estavam procurando jeitos de melhorar a comida dos astronautas e estavam analisando algas. Em uma espécie, encontraram um nutriente visto apenas em leite humano e o desenvolveram. De acordo com Lockney, a substância está presente atualmente em 95% das fórmulas de leite em pó infantil.
“Milhões de bebês foram alimentados pela Nasa, esqueçam o Tang,” brincou Lockney. Outro item é um material criado para trajes espaciais que controla a temperatura. Esse material que esfria o corpo está agora em meias, roupas para esportes de aventura e até mesmo em alguns ternos.
O cirurgião Michael DeBakey ajudou a desenvolver uma pequena bomba cardíaca, feita para pacientes que precisam de transplantes. A engenhoca é baseada nos fluidos que se movem pelos motores principais do ônibus espacial. O dispositivo já foi implantado em algumas centenas de pacientes.
A agência também desenvolveu uma ferramenta para bombeiros. Ela resgata vítimas de acidentes sem precisar de energia elétrica. O combustível dos foguetes do ônibus espacial foi usado na criação de uma dispositivo que desativa minas terrestres com segurança.
Para Yong, a ciência do ônibus espacial é ideal. Os astronautas se familiarizavam tanto com os experimentos que precisavam conduzir que se tornaram pesquisadores de verdade, algumas vezes até adaptando a pesquisa e melhorando seus resultados. Muitas vezes, eles eram coautores dos estudos publicados pelos professor do MIT. “É assim que ciência deve ser feita”.
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