Sonda da NASA já está a orbitar fóssil do Sistema Solar
Por Nicolau Ferreira
A viagem da sonda Dawn foi comprida. Quatro anos a circular à volta da Terra numa rota em espiral até alcançar Vesta. Finalmente, neste sábado, a gravidade do asteróide puxou a nave para a sua órbita, o que inicia um ano de observação de um objecto que, segundo os cientistas da NASA, é uma janela para o início da formação do Sistema Solar.
Um desenho da sonda Dawn na cintura de asteróides (JPL/NASA)
“Hoje, celebramos um marco incrível na exploração”, disse neste sábado em comunicado o administrador da NASA, Charles Bolden, referindo-se à entrada em órbita de uma nave num asteróide da cintura, algo que nunca tinha sido feito até então.
“O estudo de Dawn ao asteróide Vesta marca um sucesso científico maior, e também aponta o caminho para destinos futuros para onde as pessoas vão viajar nos próximos anos. O Presidente Obama ordenou à NASA para enviar astronautas para um asteróide em 2025, e a sonda está a reunir data importantíssima que vai dar informação a essa missão”, acrescentou.
Já se sabe muito sobre Vesta através de meteoritos que chocam contra a Terra provenientes deste enorme asteróide, e de observações feitas directamente. Há fortes indicações que Vesta esteja internamente estruturado como a Terra: um núcleo metálico e rocha à volta.
Só que a sua formação, ao contrário da Terra, estagnou devido à enorme força gravítica exercida por Júpiter, o que impediu a acreção de material num crescendo que levaria à formação de um planeta. “Vesta conta-nos como é que foi o processo de formação de planetas durante os primeiros 10 minutos em que se põe [um planeta] no forno”, disse à revista Nature Richard Binzel, investigador especialista em planetologia do MIT em Cambridge. É por isso um fóssil do início do Sistema Solar.
A sonda Dawn tem três instrumentos para analisar o asteróide. Uma câmara que vai filmar a superfície que detecta detalhes maiores de 10 metros. Um espectrómetro que vai analisar os minerais da crosta a diferentes comprimentos de onda. Um aparelho que produz raios gama e um detector de neutrões capaz de detectar as quantidades dos elementos.
Juntos, estes instrumentos poderão perceber como é que um corpo tão pequeno, comparado com os outros planetas (seria preciso juntar 26 Vestas em linha para se obter um diâmetro igual ao da Terra), pode sofrer uma diferenciação geológica semelhante. “Chamamos-lhe o mais pequeno planeta rochoso porque a sua evolução é muito similar à da Terra, da Lua, de Marte, e tem algumas similaridades com Mercúrio”, disse Carol Raymond, citada pelo Guardian, a investigadora pertence ao Jet Propulsion Laboratory da NASA e é a responsável por esta missão.
E depois há Ceres, o destino do segundo acto desta missão. A Dawn só vai chegar lá em 2015, mas parte do mistério de Vesta está nas características de Ceres. O maior dos asteróides, com 1000 quilómetros de diâmetro, é menos diferenciado, mais primitivo, tem uma química diferente com muitos minerais com água e a sua densidade é mais baixa do que Vesta. O asteróide poderá até ter um oceano gelado abaixo da superfície.
As únicas diferenças entre os dois asteróides são o lugar onde estão situados, Ceres está mais próximo de Júpiter, e a possibilidade de este asteróide ter-se formado milhões de anos após Vesta. O resto é uma incógnita para Carol Raymond: “Queremos descobrir porque é que as suas formações divergiram – foi a altura de formação, foi os gradientes químicos na cintura, foram as peculiaridades da história do bombardeamento de asteróides?”
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